OS DEFORMADOS
OS SUJOS E DESPREZÍVEIS
OS INSANOS E LOUCOS
OS HIVs +
OS TRANSEXUAIS
OS ANTI-CRISTO
OS DIFERENTES E ANORMAIS
OS SUBUMANOS
OS “ SEM DEUS”
ONDE ESTÃO ???
...CONFINADOS NOS ASILOS DO
PRECONCEITO DE CADA UM.
...GRAVADOS NO CORAÇÃO E NA
MEMÓRIA DE UM DEUS SANTO
E MISERICORDIOSO, QUE UM DIA HÁ DE
JULGAR TODA A TERRA!
-
A visão
A Caverna de Adulão é um ministério cristão destinado à evangelização de tribos urbanas e marginalizados sociais. O alvo principal da caverna é a juventude urbana que não se encaixa nos moldes da cultura dominante.
O ministério dedica-se a levar o evangelho a esses jovens que vivem à margem da sociedade, undergrounds, nos guetos e “points” noturnos. Apesar de possuir características específicas, a Caverna de Adulão não tem a pretensão de fundar uma "nova" igreja, nem tampouco ser um grupo de cristãos exóticos fechados em si mesmos. Temos o apoio moral e a cobertura espiritual de diversos líderes e igrejas de diferentes denominações. Não possuímos nenhum vínculo com os modismos evangélicos ou movimentos sensacionalistas que atuam sobre a juventude como verdadeiros “animadores de auditório” da fé.
A Caverna pretende penetrar nos “subterrâneos” e alcançar onde as igrejas normalmente não têm alcançado. Somos cristãos inconformados com a miséria que encontramos em cada esquina da cidade. Não estamos alienados frente aos problemas que as metrópoles do mundo enfrentam: a pobreza aumenta na mesma proporção em que proliferam seitas e alternativas exóticas de solução. Somos cristãos inconformados com a passividade dos que insistem em ficar reclusos dentro das igrejas, enquanto crianças mendigam nas calçadas e jovens cultuam a morte nas ruas escuras da cidade...
Sabemos das dimensões faraônicas da crise que assola o planeta e, por isso, não temos a pretensão de levantar bandeiras utópicas. Queremos, sim, fazer aquilo que já nos é possível: desenvolver o nosso “ministério”, ou nossos “projetos”, que é prestar assistência aos marginalizados sociais. O nosso alvo principal são os jovens que normalmente não freqüentam “shoppings centers” e nem usam o tênis da moda. Os jovens “diferentes”, de aparência muitas vezes “agressiva”, vistos com receio pela sociedade. Queremos conviver com essas pessoas que vivem à margem da sociedade, undergrounds, nos guetos malditos da noite. Acreditamos e temos vivido que Cristo é uma alternativa melhor que as possibilidades que lhes chegam às mãos, melhor que as drogas e a violência. Queremos quebrar esse ciclo marginal que se completa com a morte.
Infelizmente muitas igrejas, perdidas em questões de hábitos e costumes, fecham as portas para aqueles que lhe são “diferentes”. Não podemos fechar os olhos às revoluções culturais que se processam nas selvas de pedras, com o surgimento de tribos urbanas formadas por jovens sedentos de identidade e auto-afirmação.
POR QUE ESSE MINISTÉRIO ?
Para se entender o homem é preciso compreender a sua origem e sua história. O homem é a conseqüência da evolução de fatos e sugestões que formaram seu pensamento, costumes e cultura.
Entendemos o grito do renascentismo na Europa do Século XV, quando o imperialismo monárquico e a imposição absolutista do clero massacravam e sufocavam a sociedade da época que, como uma antítese, criou a hiper valorização do EU, a glorificação do humano: o humanismo.
As expressões filosóficas, artísticas, culturais e científicas demonstravam explicitamente o homem como o centro absoluto, gerando o individualismo desenfreado e a competitividade, onde vence quem é melhor! Homens como Shakespeare, Da Vinci, Camões, Erasmo de Roterdã, Galileu Galilei, William Harvey, André Vesálio e muitos outros influenciaram e influenciam ainda o pensamento dos homens através de suas obras e descobertas, trazendo mudanças no comportamento humano.
“Deus está morto!”
...Bradava Nietzsche às sociedades do século dezenove, em meio a um tormento existencial.
A humanidade vive sob a lei do “prazer aqui e agora”. Vários movimentos de libertação têm surgido nas últimas décadas. Nossos anseios e aflições fizeram de nós seres altamente insatisfeitos. Os movimentos são manifestações sinceras da não aceitação da cultura impositora que massacra os mais fracos e oprime as minorias.
Revolução pós-guerra, “hippies”, revolução estudantil, neo-anarquismo, liberação sexual etc são alguns desses gritos por mudanças e respostas. Numa sociedade falida e injusta, o que resta é descrença no sistema e nas instituições, gerando o individualismo como forma de sobrevivência.
Muitos jovens têm o coração fechado para o evangelho porque têm no seu imaginário o exemplo da opressão da igreja católica romana em diversos séculos, conivente e participante da corrupção dos sistemas estabelecidos, e associam o cristianismo à imagem de igrejas tidas por eles como instituições falidas, contraditórias, desmerecedoras de crédito.
É necessário dizer a esse mundo -que já ouviu falar de Jesus-, que Cristo está acima e é muito mais do que os religiosos, bem ou mal, conseguiram mostrar. É preciso mostrar que Cristo é a possibilidade, o exemplo e a consumação do perdão, da justiça, da paz e da salvação.
A CULTURA DOMINANTE
Uma análise rápida de faces da cultura dominante nos permite entender o porquê do inconformismo de muitos jovens. Os anos 90 assistem à derrocada de sistemas que subsistiram durante séculos. As crises mundiais são mostradas diariamente pelos meios de comunicação. Caiu o comunismo e o Muro de Berlim, mas a crise é igualmente conflitante no mundo ocidental, onde aumentam as desigualdades sociais, a revolta, a miséria, o desemprego.
Os problemas estão em todas as partes. É simples quando percebemos que sistemas injustos e instituições repressoras são, na verdade, o reflexo da maldade, do pecado no coração dos homens. Os poderes estabelecidos possuem mecanismos de punição, porém, não têm interesse e fracassam nas tentativas de recuperação, porque eles mesmos, muitas vezes, são modelo de oportunismo e corrupção.
Rubem Martins Amorese, secretário especial de ética da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), em artigo publicado no informativo “Convergência”(agosto 95), analisa que “a paternidade social está em crise”. Ele diz que o país empurra seus “filhos” para a contravenção e deseja que sejam honestos e éticos:
“aprovaram leis que transformam o Estado num cassino e não querem concorrência, mas ainda assim são capazes de grandes gestos de sensibilidade. Não desbaratam o jogo do bicho porque causaria grande desemprego. Há de se pensar nas famílias que vivem da atividade. O mesmo se diga de atividades alternativas e tantos outros meios de vida que florescem no lusco-fusco de uma legalidade criada por uma paternidade maculada, interesseira, gananciosa e elitista, além de fraca, trôpega, confusa, contraditória e culpada. A situação de violência urbana em que vivemos apresenta-se como um forte indicativo de que falharam todos na preservação de uma legalidade hipócrita e leonina. Uma legalidade com redação moderna e atual, mas com ranço de escravatura, discriminação, totalitarismo, dominação e elitismos”.
As penitenciárias fabricam criminosos de alta periculosidade por causa da superpopulação carcerária. Os presos por delitos banais (pequenos furtos), são encarcerados juntamente com seqüestradores, traficantes e homicidas. O primeiro censo penitenciário do país, elaborado pelo Ministério da Justiça em fins de 94, mostrou que há no Brasil 129.169 presos ocupando 59.954 vagas. Desse total, 95% são pobres e 30% estão presos por cometerem delitos banais como roubar tijolos ou uma lata de leite. Além disso, quase metade deles tem menos de 30 anos.
A Aids há muito tempo deixou de ser a “peste gay” e, a cada dia, contamina mais heterossexuais, mulheres e adolescentes. Vive-se, ainda, em constante tensão provocada pela violência nas grandes cidades. O problema do desemprego e a crise econômica que envolve todo o planeta, entre outros, motivaram o recrudescimento da xenofobia em diversos países. É preciso achar um culpado; assim, os dedos em riste se apontam para os imigrantes, para grupos étnicos, para as minorias.
Infelizmente esse caos tornou-se o cenário propício para a pregação dos arautos da “nova era”. A igreja precisa permanecer santa dentro dessa realidade e oferecer a possibilidade de se viver o “Reino de Deus” e contribuir para a transformação da sociedade injusta, corrupta, preconceituosa.
CONTRACULTURA - A História
Os grupos urbanos se diferenciam pelas formas próprias de se expressarem, pela ideologia político-social, pelas músicas, vestimentas, linguagem, inclinação religiosa (ou anti-religiosa). Para entendermos melhor a evangelização dos grupos urbanos, é necessário entender o que é contracultura e como ela influenciou e modificou a vida das pessoas nas últimas décadas.
Em termos gerais, “contracultura” significa cultura alternativa, a cultura marginal, cultura não-oficial. Podemos entender a contracultura, por um lado, como um conjunto de movimentos de contestação da juventude, um fenômeno datado e historicamente situado. Por outro lado, o termo pode se referir a uma postura de rebeldia e, como afirmou Luís Carlos Maciel (colaborador de diversos jornais “underground” nos anos 70), “um certo modo de contestação e enfrentamento da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às formas mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante”.
ANOS 50 - O mundo ocidental estava eufórico com o fim da II Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, celebrava-se o desenvolvimento tecnológico que alimentava cada vez mais o desejo consumista e motivava a afirmação do american way of life. Concomitantemente, porém, vivia-se sob a tensão da “guerra fria”, alimentada pela ameaça atômica entre os EUA e a União Soviética, e a perseguição a personagens da esquerda americana, o “macarthismo”.
Nesse contexto surgia uma nova geração de poetas, a beat generation, de um espírito contestador que rejeitava não somente os valores estabelecidos mas, basicamente, a estrutura de pensamento que prevalecia nas sociedades ocidentais. Assim, os beatniks criticavam o predomínio da racionalidade científica, tentando redefinir a realidade através do desenvolvimento de formas sensoriais de percepção. Esse pensamento antiintelectualista motivava a busca de experiências místicas através de filosofias orientais e de outras formas de consciência possibilitadas pelo uso de alucinógenos.
Pouco após o surgimento dos “beatniks”, surgem os hipsters, opondo-se aos square (os caretas, os quadrados), os conformistas bem ajustados ao sistema. Ao contrário dos beats boêmios e de certa forma românticos, os “hipsters” eram mais radicais em sua revolta contra as então modernas sociedades tecnocráticas. Assim, o “hipster” procurava se desligar da sociedade, existir sem raízes, empreender uma busca profunda de si mesmo. Uma das formas para se realizar isso, desafiando o desconhecido, era pela “delinqüência”.
Simultaneamente ao aparecimento dos “beatniks”, na década de 40 ainda. A década de 50 foi marcada, também, pelo surgimento do rock’n roll, aglutinando um público jovem que começava a fazer desse tipo de música a expressão de seu descontentamento e rebeldia, tornando inseparáveis a música (ou arte) e o comportamento. É a chamada “juventude transviada”, “com suas gangs, motocicletas e revolta contra os professores na sala de aula”, como lembra Carlos Alberto Pereira no livro “O que é contracultura”. O rock passaria a ser, então, a principal manifestação artística da contracultura e porta-voz da revolta, rebeldia e insatisfação.
ANOS 60 - “Flower power”, “paradise now”, “é proibido proibir”: estes foram alguns dos slogans mais repetidos pelos jovens nos anos 60. Em decorrência dos “beatniks” e dos “hipsters” surgiu o movimento Hippie, cuja maior filosofia era o binômio “paz e amor”. Apesar de muitos pontos em comum (insatisfação com o sistema etc), os “hippies” se diferiam dos “hipsters” pela alegria. Enquanto os “hipsters” eram deprimidos e céticos, os “hippies” eram alegres, festivos e utilizavam as flores como símbolo. Durante essa década eles fizeram passeatas, promoveram festivais onde rolava sexo livre e se celebrava o uso das drogas, protestaram contra a guerra do Vietnã e curtiram a música de Bob Dylan, Beatles, Joan Baez e muitos outros vistos como referencial e porta voz da juventude. A música jovem (especialmente o rock), perdeu a inocência das canções de Elvis Presley e passou a ser baluarte da contestação política (Dylan), contra a guerra do Vietnã (Joan Baez) e das seitas orientais e experienciação alucinógena (Beatles, Rolling Stones).
ANOS 70 - No início da década morrem três ícones da contracultura: Jimmy Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Em dezembro de 1970 John Lennon declara que "o sonho acabou". Era a declaração oficial do fim do movimento e do sonho “hippie” de uma sociedade constituída no "paz e amor":
Eu acordei para isso também. O sonho acabou. As coisas continuam como eram, com a diferença que eu estou com trinta anos e uma porção de gente usa cabelos compridos".
Na música "God", Lennon registra o “fim do sonho”:
“O sonho acabou/ o que é que eu posso dizer?/ o sonho acabou/ ontem, eu era um fabricante de sonhos/ mas agora eu nasci novamente/ eu era o Leão Marinho/ mas agora eu sou John/ e então meus amigos/ vocês têm de continuar/ o sonho acabou".
Separados os Beatles, John Lennon passa a posar como arauto da paz, com músicas filosóficas e fotografias com pombas brancas na cabeça.
É a redescoberta da macrobiótica, da yoga, hare krisna, candomblé (no Brasil), lutas marciais, sessões de psicanálise etc.
As bandas de heavy metal faziam saudações satânicas em seus shows e, nos discos, músicas incitando ao uso de drogas, ao suicídio. Mensagens subliminares eram colacadas nas gravações. Em l976, porém, explode em Londres o movimento Punk, com uma espécie de anti-música criticando os músicos de “heavy metal” que haviam se transformado em estrelas, ou seja, haviam se aderido ao sistema do "showbiz". Os “punks” eram contra as religiões, contra as instituições, contra a sociedade, num discurso predominantemente anarquista.
Em texto publicado na revista “Manchete” (29/5/82, número 1571), o jornalista Irineu Guimarães analisava, assim, a crise da juventude dos anos 70:
-”Decorrente da crise do petróleo, a crise econômica mundial permitiu, pela primeira vez na história recente, que os países desenvolvidos e em via de desenvolvimento percebessem que o futuro econômico não era mais uma marcha regular rumo à prosperidade e rumo a níveis de produção e consumo cada vez mais elevados. De um dia para o outro, a noção de "sociedade de opulência" foi substituída pelo conceito de "sociedade de penúria". Os sociólogos descobriram um novo dicionário, cujos vocábulos chave passariam a ser: desemprego, superqualificação profissional, inadequação entre educação e mercado de trabalho, ansiedade, atitude de defesa, pragmatismo e luta pela sobrevivência. A descoberta repentina de insegurança e de incerteza de participação no arquétipo clássico do ciclo produção consumo fez explodir, em poucos meses, os mitos e as contradições que viviam disfarçadamente nas velhas definições da mocidade. De noite para o dia, os jovens descobriram que eram enganados e que contribuíam, pela sua própria maneira de ser em grupo, para a continuidade desse engodo. Eles vivem numa sociedade que os venera porque celebra neles a aventura, o sonho, a possibilidade de aderir ao delírio e de, a ele aderindo, modificar a realidade. Mas essa veneração é mentirosa. Porque, de fato, eles não tem a menor chance de participar na elaboração das propostas desta sociedade, de colocar na raiz da instituição sua própria criatividade, de inventar ou conquistar um espaço suficiente para seu sonho”.
Diante desse quadro, entendemos porque o filósofo Herman Hesse, autor da frase "quem quiser nascer precisa destruir o mundo", era o preferido da juventude da época.
ANOS 80 - Nos anos 80 se acentuou na juventude o individualismo, o cada-um-por-si. O yuppie, o jovem bem vestido e financeiramente bem sucedido, passou a ser o modelo a ser atingido pela juventude. Diversos líderes da contracultura dos anos 60 se tornaram empresários de sucesso. A Aids surgiu e colocou na berlinda a tão proclamada liberdade sexual conquistada nos anos 60. O protesto se organizou em diversos grupos, as ONGs (Organizações não Governamentais), que lutaram por causas diversas: grupos de homossexuais, grupos de apoio e prevenção à Aids, grupos de defesa da ecologia. A propósito, a natureza foi não apenas defendida mas, mais que isso, admirada e idolatrada, levantada à posição de solução ante ao mundo industrializado, poluído e artificial. Ao mesmo tempo, recrudesceram movimentos de extrema direita, como o neonazismo. O esoterismo atingiu status e prestígio, saindo de seus esconderijos e camuflagens e assumindo novas formas divulgadas por artistas e políticos, com amplo espaço nos meios de comunicação. Cresceu o número de bandas de “heavy metal” declaradamente satanistas, é o black metal. A pregação da “nova era” se intensifica, anunciando a Era de Aquarius já cantada pelos "hippies". Causas comuns de solidariedade, envolvendo jovens de todo o mundo, foram vistas em questões como a fome na Etiópia e a libertação do líder negro sul-africano Nelson Mandela.
CONTRACULTURA CONTEMPORÂNEA
Os anos 90 vivem o caos das grandes concentrações urbanas. As metrópoles do mundo inteiro atraem multidões à procura de novas oportunidades. Essa massa migratória traz consigo, evidentemente, seus hábitos, sua cultura. A diferença é que, se no passado, como no caso dos Estados Unidos, os imigrantes se adaptavam à cultura do novo país, isso não mais ocorre. Ao contrário do que alguns cientistas políticos anunciavam, de que os meios de comunicação de massa acabariam por nivelar e igualar culturalmente as pessoas, os grupos étnicos e as chamadas minorias se fortaleceram na manutenção de suas peculariedades, de seus costumes, fazendo ressaltar nas grandes cidades a diversidade cultural, a diferença. A propósito, aí reside o conflito cultural dos dias atuais. O mundo descobriu que as pessoas são diferentes e não sabe lidar com isso. E o diferente não está mais distante numa tribo africana ou numa ilha distante do Pacífico; o diferente está morando na casa ao lado, disputa o mesmo emprego, entra no mesmo elevador.
Não existem mais grandes causas em comum que unam e mobizem jovens de diversas partes do mundo em forma de movimentos de protesto e contestação. A sociedade fragmentou-se. Talvez seja difícil as novas gerações entenderem mas, o termo "urbanidade", até os anos 50, era um elogio. O palavra "polidez", do mesmo modo, surgiu do substantivo "polis".
A atual onda xenófoba norte americana contrasta com as características cosmopolitas das grandes cidades do mundo.
A contracultura que antes tinha uma motivação, um slogan e um discurso político-ideológico, hoje, seculo XXI, se restringe a grupos que desejam apenas conquistar um grau de satisfação. Não somente os "rebeldes" e "transviados" mas, a própria sociedade contemporânea está-se organizando em torno de semelhanças culturais, de gostos sexuais, afinidades religiosas. O sociólogo francês Michel Maffesoli afirma que "em vez de se unirem em torno de um grande ideal democrático, as pessoas agora ficam juntas sem nenhuma afinidade, só pelo prazer, ligadas por valores muito próximos do cotidiano". (O Globo, 28.5.95)
As minorias se organizam na luta por seus direitos. As ONGs se multiplicam e se fortalecem. Cresce a onda do "politicamemte correto". Somente no Brasil, por exemplo, existem atualmente mais de 60 grupos de defesa e miliância dos direitos dos homossexuais.
Maffesoli explica que "as grandes utopias foram substituídas por pequenas liberdades intersticiais, não estamos mais à procura da grande liberdade longínqua e utópica, mas da pequena liberdade no cotidiano, nos interstícios sociais; existe a exploração capitalista mas as pessoas conseguem encontrar pequenos espaços de liberdade no cotidiano; é uma conquista sem palavras, uma liberdade de sobrevivência, mas, apesar das dificuldades sociais, morais e econômicas, as pessoas vivem".
As alternativas da “nova era” florescem e muitos jovens buscam respostas e soluções no ocultismo. A existência de fragmentos sociais transformou os grandes centros urbanos em verdadeiros universos, labirintos onde milhões de pessoas tentam achar sua saída. O homem "criou" suas próprias respostas, que vão do mais trágico humanismo -"tudo-ao-mesmo-tempo-agora"-, até o mais desesperador misticismo, onde o não racional e o engano ditam as regras.
IGREJA - Status Quo ou Alternativa ?
O cristianismo faz parte da humanidade há dois mil anos, mas sua mensagem foi revelada desde a queda do homem, registrada no livro de Gênesis.
Deus ama o mundo, o cosmo (Jo 3:16), e este cosmo-sistema engloba todos os homens e sociedades (Ap 5:9).
O evangelho de Cristo não é uma cultura; daí nao podemos impor os padrões da classe média ocidental como modelo do Reino de Deus. Na mentalidade tradicional evangélica, infelizmente são tidos como "salvos" apenas aqueles que se adaptam aos conceitos culturais e morais dos membros dos grupos religiosos. Errado também seria impor uma cultura diferente à sua ou um feldo religioso sobre os salvos.
Qual a resposta, então? A palavra de Deus, a Bíblia, nos esclarece. Durante o ministério de Pedro, aprendemos sobre o respeito de Deus pelas culturas gentias, e o modo como ele interferiu no trabalho de Pedro que insistia em repudiar os não judeus. At.10:9-15,28,34,35.
Igrejas Racistas
Por incrível que pareça, enquanto vê-se o fim do apartheid na África do Sul, testemunha-se o acirramento da divergência racial nos Estados Unidos. A perplexidade maior, entretanto, é saber que é praticamente “normal” naquele país a existência de igrejas racistas. A gravidade desse racismo se comprova por fatos históricos recentes, como assassinatos de negros cometidos por adeptos da Ku Klus Klan, muitos deles membros e líderes de igrejas protestantes, após o culto dominical.
Muita violência foi e tem sido cometida “em nome de Deus”. Esse é um dos piores sintomas da perfeita adequação da igreja ao “status quo”, ao sistema estabelecido. Isso mostra como a questão da diversidade cultural não é bem assimilada. Adequando-se ao “sistema”, muitas comunidades cristãs limitam a grandeza do Evangelho às suas preferências sociais, raciais, culturais e interesses políticos, ao invés de se constituirem como uma alternativa de vida para povos, grupos ou indivíduos marginalizados, estigmatizados, rejeitados.
Os anos de inércia da igreja medieval, indubitavelmente mais “romana” que “católica” permitiram, por exemplo, que o Islamismo surgisse, florescesse e chegasse a diversos povos, os quais nunca haviam ouvido falar de Jesus e até hoje não conhecem a mensagem do Evangelho. Como consequência temos hoje a estatística de que uma religião que não professa o nome de Jesus é a que mais cresce no mundo!!!
A REVOLUÇÃO DE JESUS
Felizmente, milhões de pessoas no mundo, apesar das diferenças culturais, têm conhecido o amor de Jesus através de cristãos realmente compromissados com o Reino de Deus.
Apesar de ignorados pela história oficial, todos os séculos tiveram testemunho de cristãos piedosos tementes a Deus. Na história contemporânea não é diferente. Desde os anos 50, por exemplo, pessoas se dedicaram a proclamar o evangelho simples e puro, escoimado de preconceitos e preferências pessoais, à juventude desiludida à procura de novas respostas.
Larry Normam compunha rock e blues com mensagens cristãs e, através de seu trabalho. muitos jovens se converteram ao cristianismo no auge da revolução hippie que marcou os anos 60. A propósito, se os hippies procuravam a paz e o amor, certamente que não podiam deixar de receber o testemunho sobre a verdadeira paz e o verdadeiro amor vindos de JESUS.
Assim, muitos hippies se converteram e passaram a pregar o evangelho da mesma forma alegre e descontraída, com suas roupas e colares coloridos, através de sua música. A geração do “flower power” não podia mais associar o cristianismo a longos sermões, listas de obrigações e à retórica das religiões.
O novo “fenômeno” chamou atenção das igrejas e da imprensa mundial, recebendo o nome de Jesus Revolution”. O Reverendo Normam Vincent Peale fez, na época, a melhor e mais simples análise do surgimento do Jesus People. Em depoimento publicado na revista “O Cruzeiro” (22.11.72), Peale dizia:
-”De certa forma, os cristãos tradicionais são responsáveis pela “Revolução de Jesus”. Durante anos poucos estenderam a mão e assistiram a mocidade no momento em que se processava um vácuo espiritual. Todos os sinais estavam ali: insatisfação com materialismo e endinheiramento, impaciência com formas obsoletas de culto, anseio de auto-realização (buscado), primeiro, através da música rock, depois, sob várias espécies de misticismo e, finalmente, pelas drogas. Padres e pastores ficavam em seus gabinetes remexendo papéis, preocupados em construir templos e rever orçamentos. Outros até chegaram a providenciar programas de ação social bem intencionados, mas com dieta pobre para os espiritualmente famintos. Muitos olhavam para os jovens e não gostavam do que viam. ‘Afastem-se’, nós lhe dizíamos, ‘vão tomar um banho e cortar o cabelo; aceitem os nossos valores; voltem, então, e conversaremos’. E o que foi que aconteceu? Um milagre, de certo modo. Sem grande ajuda nossa, alguns desses jovens que procuravam nortear-se saíram tateando, tropeçando, e conquistaram o seu caminho, até encontrarem ALGUÉM tão majestoso, tão cheio de amor e transbordante de vida que encheu por completo o vazio de suas existências”.
Peale, nesse depoimento, dizia ainda que os cristãos “austeros e convencionais” tinham muito que aprender com a inflamação desses jovens, inclusive reaprender a vibrar com o encontro de CRISTO, “desenterrando-o do túmulo da história e de suas mentes”...
A mesma reportagem registrou, ainda, o depoimento do Cardeal gaúcho Dom Vicente Scherer, apontando “um aspecto positivo e promissor do ‘Jesus People’”: -”Parece um bom sinal que os próprios jovens, investindo com uma audácia que raia pela temeridade, quais novos bárbaros, contra ídolos influentes e erros dominantes, voltem seus olhos para Cristo em busca de rumos de autenticidade, de refúgio de de libertação”.
REZ - Naquela mesma época surgiu um grupo que, unido até hoje, é o melhor remanescente da “Revolução de Jesus”: a banda “Ressurection”, ou “Rez”. Os membros da “Rez Band” vivem em comunidade num bairro pobre da cidade de Chicago. A comunidade funciona como “um refúgio para pessoas machucadas à procura de vida; usuários de drogas tentando livrar-se dos velhos hábitos; homens e mulheres que tiveram uma experiência com Cristo na cadeia, foram libertados e agora precisam de um novo lugar que os ajude a permanecer no caminho de Deus; pessoas que desejam se libertar do homossexualismo; jovens cujos pais necessitam de assistência”. (Informativo “Cornnestone” l992). Para o pastor Glenn Kaiser, líder da igreja “Jesus People”, “uma comunidade não pode sobreviver se ela não se prestar a algo maior do que ela mesma, viver a serviço dos outros”.
COMUNIDADE S8 - Simultaneamente ao surgimento da “revolução” nos Estados Unidos, acontecia, no Brasil, movimentos cristãos voltados aos jovens envolvidos com a contracultura. Dentre eles, destacou-se o trabalho da Comunidade S 8, situada em Niterói, Rio de Janeiro. Seu fundador, pastor Geremias Matos Fontes (ex-governador do Estado do Rio), iniciou o trabalho na garagem de sua casa, no começo dos anos 70, onde reunia jovens cabeludos e drogados e pessoas com diversos outros problemas. O ministério se expandiu e até hoje acolhe e orienta pessoas marginalizadas, como homossexuais, dependentes químicos e portadores do vírus HIV. Uma das características marcantes da S 8 é a sua produção musical, com ritmos e poesias originais e peculiares, registrados em mais de cinco Lps ao longo desses 20 anos de atividades.
A RESPOSTAJESUS CRISTO: a resposta de Deus para uma humanidade morta e falida. “Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida, juntamente com Cristo - Pela graça sois salvos” (Ef.2:5).
Deus ama a cidade e tem um propósito para ela. Existem na Bíblia centenas de citações sobre cidades, como podemos ver, entre tantas, em Gn 22:15-17; Nm 35:1-8; Jz 4:11; Lc 2:1-7,11; At 8:4-8; Hb 12:22 e, finalmente, a Cidade de Deus, projetada e calculada por Ele, Ap 21:9-27. Quando entendemos qual a nossa expressão no Corpo de Cristo e qual a nossa função na história, aí realmente iremos “despertar”. Só há uma alternativa para nós: a igreja. Recebermos um despertamento vindo de Deus que nos acorde do sono da omissão (Ef 5:14-16).
Enquanto gritamos “maranata!”, enquanto fechamos nossos olhos e nos recusamos a olhar ao nosso redor, Satanás trabalha intensamente, deixando suas digitais na história e na cultura dos homens, além de um rastro milenar de destruição.
Entendemos que a Igreja de Cristo é a representante legal da graça de Deus. Não podemos adulterar o nosso “produto” e nem fracassar no nosso papel. Precisamos entender os conceitos urbanos de “tribos”, para poder alcançá-las; além disso, devemos estar atentos à realidade dos diferentes grupos étnicos que convivem nas metrópoles. Não podemos continuar omissos e indiferentes em face a uma turbulenta virada de século. Precisamos analisar se o nosso pensamento evangélico está alicerçado na “Palavra da Vida” ou na cultura européia do século XIX, trazida pelos primeiros missionários.
Precisamos ser sinceros com a nossa geração. Respostas etéreas e chavões religiosos não satisfazem as necessidades e não respondem os questionamentos da humanidade do final do século XX.
Cremos no potente amor de DEUS por todos os homens e na veracidade de sua palavra que nos “limpa” de todo erro e engano.
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” (Jo 8:32)
Elaborado por Fábio Ramos de Carvalho e Geraldo Luiz da Silva (out/95).
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http://www.comunidadearca.com.br/BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
-BÍBLIA SAGRADA - Tradução de João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica do Brasil. Brasília, l969.
-O Evangelho e a Cultura - A Contextualização da Palavra de Deus - Comissão de Lausanne. 3a edição. ABU Editora e Visão Mundial, 1991.
-PEREIRA, Carlos Alberto M. O Que É Contracultura. 2a edição. Brasiliense, 1984.
-SCHAEFFER, Francis A. A Igreja do Final do Século XX. 2a edição. Brasília: Sião, l988.
-TAVARES, Carlos A. P. O Que São Comunidades Alternativas. 1a edição. São Paulo: Nova Cultural/Brasiliense, l985.
-MENDONÇA, Antônio Gouvêa, FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. 1a edição. São Paulo: Edições Loyola, 1990.
Periódicos:
-Revistas: “Veja”, “Manchete”, “O Cruzeiro”, “Fatos & Fotos”.
-Jornais: “Convergência” (AEvB), “Folha de São Paulo”, “O Globo”, “O Estado de São Paulo”, “Jornal do Brasil”.